quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Just skin

Pele.
É o maior órgão do corpo humano, constituindo 15% do peso corporal, cobrindo quase todo o corpo.
Leitosa, ou achocolatada. Suave e nova, ou seca e marcada. 
Protege todo o nosso corpo. 
Cresce, estica, muda connosco.
Carrega nela a história da nossa vida, cheia de lembranças e marcas de um passado.
Pode envergonhar-nos de um momento para o outro. Arrepia-se e faz-nos tremer. 
É a única coisa que se toca. 
Apaixonadamente, provocando gemidos de prazer. 
Suavemente, apreciando a textura, a cor.
Rudemente, causando dor.
Cortante, vendo-a sangrar e sarar pouco a pouco.
Apressadamente, coçando com alivio.


Esquecendo as roupas e tudo o que nos diferencia. Deixando para trás o mundo de que vimos e aquilo que queremos mostrar.


Quero sentir a tua pele! Vem e põem a tua pele contra a minha. Tudo o que te quero ver é a tua pele!
(Wanna feel your skin.Just put your skin baby on my skin.All I wanna see you in is just skin.
Skin - Rihanna)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

the beast you've made...

  Farejo o ar frio da noite. Sinto um leve odor a sangue, a medo.
Escondo-me nas sombras da ruela, acalmo a respiração. Apoio o corpo na parede bolorenta e inspiro profundamente.
Em reacção instintiva o meu nariz retrai-se, todo o beco cheira a podridão, a lixo e a bolor. Inspiro novamente e tento ignorar o cheiro que me rodeia, procuro mais longe. 
O toque a ferro que o cheiro carrega faz-me salivar. O meu sangue corre, mais líquido que o normal. A minha pele aquece, e todo o meu corpo vibra de antecipação. Só o coração que me bate apressado no peito me relembra a espécie, a que de facto, pertenço. 
Na minha mente passam imagens de sede, fome e do cheiro que sigo pelas ruas escuras. Olho a lua, no meio da corrida frenética, o seu brilho, normalmente branco cálido, está tingido de vermelho. Vermelho sangue que parece cantar, chamando-me, qual rio correndo no seu leito.
Paro de repente, sentindo o odor da minha vítima colar-se a minha pele. Nas sombras oiço o casal que discute por detrás da parede nas minhas costas.
Um salto, apoiando o pé no contentor, depois outro e observo-os de cima, empoleirada na vedação que limita a rua.
É a fêmea que sangra de um lábio rasgado, o seu rosto apresenta outras marcas negras. Ele investe novamente mas não chega a terminar o ataque. 
Olha para cima encarando-me.
Salto sobre ele, as minhas unhas como adagas letais, dilacerando-lhe a camisa e a carne do peito. Arranco-lhe o coração do peito enquanto este dá as ultimas batidas e levo-o a boca. O cálice perfeito para a doce ambrósia. 
  No meio do êxtase do sangue e da adrenalina oiço um gemido abafado. No momento em que olho a minha próxima vitima uma frase passa os meus pensamentos.

   Se pudesse ver o monstro em que me transformaste...

(If you could only see the beast you've made of me...
 Florence and the Machine-Howl)

domingo, 6 de junho de 2010

Não.. por favor, não me deixes

Olho-te nos olhos. Vejo-te baixar a cabeça, e uma lágrima correr pela tua cara.
Por momentos vacilo na minha decisão. O teu calor arrepia-me a pele, mas sufoca-me. Não tenho armas para lutar contra ti. Não sei que fazer sem ti na minha vida. Mas sei que não posso ficar contigo.

Tu olhas-me. Esse olhar deixa-me ler-te o coração. Deixa-me ler o teu desespero, o teu medo.
-Porque é que me deixas?...-pausa- Eu amo-te!
Eu sei que tu estas a beira do abismo, sei que te dói. Eu também te amo, mas não posso dizer-te, seria demasiado, até para nos.
Todo o meu corpo parece lutar contra mim, os meus braços querem abraçar-te, a minha boca beijar-te, o meu coração amar-te... eternamente.

Levanto-me da tua cama e caminho até a porta. Olho para trás junto a porta, com vontade de me aninhar no teu colo.
-Adeus...-pausa- Nunca te vou esquecer...
Obrigo os meus pés a levarem-me para fora deste quarto, desta casa.
A saida oiço-te soluçar, e uma única lágrima cai. Acabou, acabou...

-Não...-soluço- por favor, não me deixes...
O desespero da tua voz quebra algo dentro de mim. Volto-me e corro até ao teu quarto. Caio de joelhos a tua frente e beijo os teus lábios molhados pelas lágrimas.

Um último beijo, um último olhar.
-Amo-te, não vás.
Do meu bolso tiro um envelope amachucado, de tantas a vezes que o segurei nas mãos.
-Quando eu sair lê. Lê sempre que precisares de mim...
Levanto-me e caminho até a porta.
-Amo-te, mas...
Paro junto a porta. Sem olhar para trás respiro uma ultima vez, querendo lembrar o teu cheiro para sempre.
Por favor...-soluço-... não me... deixes...
Saio.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Regresso

Pé ante pé, com todo o cuidado, vou-me aproximando. Ele dorme, consigo sentir a sua respiração pesada. Entro no nosso quarto e o seu cheiro preenche-me. 

Por um momento fico encostada a porta apenas a olhar para ele. Os caracóis desgrenhados sobre a almofada, a boca aberta em forma de O, como os bebes, os braços abertos, como que um convite para me juntar a ele. 

Um sorriso abre-se no meu rosto cansado. Apenas estive fora 3 dias, mas pareceram-me meses longe do seu calor. 

Pouso os sapatos, o casaco e a mala. Tiro a saia e as collans, desaperto a camisa. De mansinho deito-me no seu peito, e sorriu, cheguei a casa finalmente. 

Os braços dele apertam-me contra o peito, e adormecido ele saúda-me.
'-Bem vinda a casa, amor...' 

Enrolado pelo sono, ele beija-me a testa com carinho, entrelaçando as nossas pernas.Não há um centímetro do seu corpo afastado do meu. A sua pele quente contra a minha desperta-me sensações arrepiantes. 

Com a cabeça no seu peito, oiço o seu coração embalar-me pela noite fora.  
   

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Home

   Dança-mos a dança dos corpos suados, a dança dos prazeres ocultos. Nesta dança senti o meu coração explodir e troar qual força da natureza.
   Da tua boca bebi a ambrósia dos deuses e descobri que toda a minha vida havia morrido de sede ate provar essa tua iguaria.
   Olhei-te nos olhos e senti um calor esquentar ainda mais o meu sangue. Um calor que me impulsionava na espiral de certezas que tu tinhas nesse verde imenso. 
   Senti a tua mão buscar o coração que no meu peito batia veloz. Imitei o teu gesto, e descobri contigo que batiam em sintonia. Marcavam o compasso do nosso amor e da nossa alegria.
   Com todo o amor inimaginável abraçaste-me, ainda ofegante. Nesse sorriso rasgado, acanhado, satisfeito li a mais linda e profunda declaração de amor.
   E nesse teu abraço apertado, quente, protector descobri a casa que havia perdido. 

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Encaixe perfeito

   Quando peguei no telefone pela centesima vez, não cheguei a marcar o número. Já tinha liagado a todos os que precisavam saber. O meu irmão, a minha tia, os meus primos. Todos estavam convocados para o funeral do meu pai, amanha a tarde. 
   Fiquei parada, desorientada, a olhar para esta casa vazia. Parecia abandonada, tal o silencio que reinava aqui dentro. O relógio dizia-me que estava na hora de ir ao hospital, mas não queria ir sozinha.
   Peguei no meu telemóvel, sabia exactamente a quem ia ligar. Só ele me entendia, só a dor dele se podia compara a minha. Sim, porque a há anos que o meu irmão se tinha afastado de nos.
   Ele atendeu nos primeiros toques, achei que ele deveria estar com o telemóvel na mão para me ligar, e isso fez-me sorrir.
   - Diz, pequenina?
   - Podes vir ter comigo?
   - Estou a tua porta, vem cá fora.
   - Até já.
   Pois, típico. Eu e o Miguel somos assim, como que se pressentíssemos que tínhamos de ir ter com o outro. As vezes pensava se seriamos parte da mesma peça, destinados a encaixar. 
   Ele estacionava o carro, enquanto eu saia para o terraço. Pouco via da sua cara mas eu sabia que espelhava a minha, tirando os olhos inchados de chorar. Perguntava-me quantas mais lágrimas choraria até estas secarem de vez.
   Fiquei feliz ao vê-lo sair do carro e encaminhar-se para mim, abraçando-me. Com os seus braços a proteger-me, o vazio dentro de mim diminuiu, recuou um pouco. Os meus olhos encheram-se de lágrimas novamente.
   Senti que ele se afastava, encarando-me.
   -Amo-te, pequenina. Sabes disso, não sabes?
   Acenei com a cabeça dizendo que sim, sem conseguir falar. 
   Pegou-me na mão e pouso-a no seu coração.
   - Bate por ti, pequenina.
   Olhei-o nos olhos, sentindo o sabor das suas palavras. O meu também bate por ti, tentei dizer-lhe naquele olhar profundo.
   Ele aproximou-se devagar, dando-me tempo para me afastar. Não o fiz, chegava de dor, e de incertezas.
   Senti o calor dos seus lábios nos meus, e mais lágrimas caíram. No meio de tanta tristeza, uma pequena felicidade nascia, sem medos, sem vergonhas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Total eclipse of the heart


As vezes a vida parece imensa no meio da escuridão. Mas com a luz ela encolhe e acaba por esmorecer.
O eclipse total do coração, quando te voltas e vez que na realidade ninguém olha de volta, ninguém se preocupa.

Sinto que o que me parecia distante chegou cedo de mais. A solidão que eu sabia próxima invadiu os meus dias. E eu olho a minha volta cada vez com mais frequência, e a conclusão é sempre a mesma. Não há ninguém a minha volta, não há amigos para falar nem abraçar e chorar com eles.

As lágrimas que ficavam presas correm sem licença e tornam-se a minha realidade.
Lembro o que me diziam, '-Uauh és tão forte! Como e que aguentas? Se estivesse na tua situação eu iria chorar como uma doida.'
Pois, vocês só vêem a mascara. Não olham mais de perto e não vêem o que se esconde por detrás dessa força toda, dessa integridade espantosa que de nada adianta.
A pequena menina assustada que se ve sozinha num mundo imenso sem qualquer rumo a tomar.


Não há nada que eu possa fazer, eclipse total do coração...