segunda-feira, 16 de agosto de 2010

the beast you've made...

  Farejo o ar frio da noite. Sinto um leve odor a sangue, a medo.
Escondo-me nas sombras da ruela, acalmo a respiração. Apoio o corpo na parede bolorenta e inspiro profundamente.
Em reacção instintiva o meu nariz retrai-se, todo o beco cheira a podridão, a lixo e a bolor. Inspiro novamente e tento ignorar o cheiro que me rodeia, procuro mais longe. 
O toque a ferro que o cheiro carrega faz-me salivar. O meu sangue corre, mais líquido que o normal. A minha pele aquece, e todo o meu corpo vibra de antecipação. Só o coração que me bate apressado no peito me relembra a espécie, a que de facto, pertenço. 
Na minha mente passam imagens de sede, fome e do cheiro que sigo pelas ruas escuras. Olho a lua, no meio da corrida frenética, o seu brilho, normalmente branco cálido, está tingido de vermelho. Vermelho sangue que parece cantar, chamando-me, qual rio correndo no seu leito.
Paro de repente, sentindo o odor da minha vítima colar-se a minha pele. Nas sombras oiço o casal que discute por detrás da parede nas minhas costas.
Um salto, apoiando o pé no contentor, depois outro e observo-os de cima, empoleirada na vedação que limita a rua.
É a fêmea que sangra de um lábio rasgado, o seu rosto apresenta outras marcas negras. Ele investe novamente mas não chega a terminar o ataque. 
Olha para cima encarando-me.
Salto sobre ele, as minhas unhas como adagas letais, dilacerando-lhe a camisa e a carne do peito. Arranco-lhe o coração do peito enquanto este dá as ultimas batidas e levo-o a boca. O cálice perfeito para a doce ambrósia. 
  No meio do êxtase do sangue e da adrenalina oiço um gemido abafado. No momento em que olho a minha próxima vitima uma frase passa os meus pensamentos.

   Se pudesse ver o monstro em que me transformaste...

(If you could only see the beast you've made of me...
 Florence and the Machine-Howl)

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